segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Inferno - Aqueronte

Eis aqui a continuação oficial do aclamado primeiro capítulo da série Inferno. Se não o leram ainda, antes de ler esse capítulo, confira o anterior aqui :
http://contosdanevoa.blogspot.com/2010/09/inferno-o-comeco.html

Muito grato,
Isaque Lazaro.










“A Ti te invoquei; salva-me, e guardarei os teus testemunhos.” Sal. 119:146


------------------------------------------------------------------------------



Acordei. Sentia um frio bater em minhas pernas enquanto eu abria os olhos ainda grudados pelo sono forçado. Meu corpo doía, aparentemente eu havia repousado em rochas e terra.

Me levantei, limpando os cotovelos e joelhos, uma brisa batia em minhas costas, como se algo no horizonte estivesse tentando sugar tudo que estava perto de mim. O céu era avermelhado, as rochas eram avermelhadas. Tudo iluminado por um sol que não emitia calor, vermelho e imponente no céu. Que lugar era esse?

Olhei aonde estava, era uma velha estrada atrás de mim, mas que terminava num penhasco. Eu não gostaria de pular penhasco abaixo, então, comecei a descer a colina. Minhas roupas não eram mais as que usei durante o pacto. Ao contrário, era uma túnica cinza que mais parecia um vestido até o joelho. Em meu peito, um colar improvisado com um pequeno pingente de ferro repousava. Era tudo que eu precisava.
Descalço, comecei a passar pela estrada escarlate, até que entre duas árvores mortas, secas, e assustadoras, repousava uma placa. Nela li:


“POR MIM SE VAI À CIDADE DOLENTE,
POR MIM SE VAI À ETERNA DOR,
POR MIM SE VAI À PERDIDA GENTE.

JUSTIÇA MOVEU O MEU ALTO CRIADOR,
QUE ME FEZ COM O DIVINO PODER,
O SABER SUPREMO E O PRIMEIRO AMOR.

ANTES DE MIM COISA ALGUMA FOI CRIADA
EXCETO COISAS ETERNAS, E ETERNA EU DURO.
DEIXAI TODA A ESPERANÇA, VÓS QUE ENTRAIS!”


Estas palavras estavam escritas em tom escuro, no alto de um portal. Pisei dentro, receoso, assustado. Logo que entrei, ouvi gritos terríveis, suspiros, prantos, sofrimento que ecoavam pela escuridão sem estrelas. Lamentos tão intensos e sinceros que me senti perturbado naquele mesmo momento. Abaixei a cabeça, sentado no chão e tampei os ouvidos. Todos esses gritos, vindos de pessoas cujas almas estavam indo para o sofrimento eterno. Pessoas que eu conheci provavelmente estariam por ali. Chorei.

Imaginei tantas pessoas que eu não sabia mais o paradeiro... será que Guilherme estaria aí? E o Felipe? A última vez que eu ouvi falar dele, ele havia sido baleado ao sair do banco... Tudo se responderia por aqui.


-Que lágrimas bonitas, Isaque. Realmente comovente ver você chorando ao lembrar dessas vadias... – Uma voz masculina e irônica disse atrás de mim. Não olhei, mas sabia quem era.

-Não pensei em vadia alguma, maldito. – Respondi.

-Ah, sua mãe não estava no meio, querido? Erro meu... Sabe, até mesmo demônios erram...


Olhei para trás. Era um homem cujo corpo era imaterial, formado de fumaça que vinha de seus pés formandos eu corpo nu e musculoso. Era careca e apenas seus olhos não eram feitos daquela fumaça cinza-escura. Seus olhos eram uma luz intensa amarelada. Me ergui, limpando as lágrimas, e sobrepondo os gemidos do lugar. Gritos de mágoas, queixas, brigas e ira ressoavam em diversas línguas, formando um tumulto que tinha o som de uma ventania.

-Quem é você? – Indaguei o ser.

-Oras, deveria saber quem eu sou! Sou o anjo que tocou os instrumentos mais belos no Céu. Sou um dos filhos que o Criador mais amou! Sou o renegado que atiça as almas que tem fé, sou aquele que possui o direito de ir e vir do Inferno quando bem entender. Aquele que traz a Luz, Lúcifer! Ao seu dispor, belo moço...

-E o que quer comigo? Que fazes aqui?

-Não venha com formalidade bíblica para cima de mim, rapaz. Deixe para os anjinhos e almas condenadas. Pois bem, você fez um pacto conosco e eu estou aqui fazendo a minha parte. Vou te guiar pelo Inferno, e torcer para você entregar sua alma logo. Tenho um crente para atiçar daqui a pouco...

-Quem são essas pessoas que sofrem tanto?

-Pois veja, garoto. Esses gritos ressoam do outro lado desse rio. Consegue ver o rio de águas negras e turbulentas? É o rio Aqueronte.


Olhei para baixo da colina aonde me encontrava, e vi duas filas negras se movendo para um barco enorme, mais parecendo um navio. O rio escuro parecia turbulento, mas o barco não se mexia. Lúcifer prosseguiu.

-As duas filas são filas de almas que acabaram de ser enviadas ao Inferno, e ainda serão mandadas para seus respectivos círculos. Antigamente haviam nove círculos, mas a humanidade gosta de se sujar cada vez mais... Então criamos mais alguns.

-E o que acontece nesses círculos?

-Você faz perguntas demais, e isso está me irritando, garoto... Os círculos do Inferno são locais divididos por pecados, aonde as almas são enviadas para sofrerem o Contrapasso. Algo como “olho-por-olho, dente-por-dente”. Lá eles vão sofrer eternamente pelo que fizeram em vida. A propósito, desça lá. Caronte deve estar embarcando as almas agora. Você não vai querer perder seu barco, vai? Pegue a adaga na árvore.


Dizendo isso, ele sumiu em uma fumaça gelada, fétida e negra. Atrás dele, uma árvore estava perfurada por uma adaga prateada, toda talhada em runas as quase eu não entendia. A árvore possuía dois galhos que envolviam a adaga, como uma pessoa tentando remover uma faca do peito. Além disso, um buraco no caule parecia uma boca, num grito de horror.

Arrepiado pela árvore estranha, removi o quanto antes a adaga do tronco, com um certo trabalho, usando as duas mãos e um pé. Segurei a adaga, e percebi que não era um punhal comum. Esse não era só feito para furar, mas também sua lâmina de corte era a mais afiada que já vi.

Segurei o pingente de ferro do meu colar, e sorri. Me senti confortado, protegido... confiante. De alguma forma o pingente fazia eu me sentir com coragem e forças para seguir em frente. E foi exatamente o que fiz...

Segui descendo uma trilha tortuosa em meio a rochas enormes. Nenhum animal existia nesse lugar, nem mesmo insetos e plantas. Era desolado, horrível. Com certeza não era o mundo material mais. Após alguns minutos, notei na proa do barco gigantesco uma figura fantasmagórica.

Coberto por um manto negro com capuz, maltratado pelo tempo, estava um velho pálido, branco e de pêlos antigos. Ele gritava:

-Almas ruins, vim buscar-vos para o castigo eterno! Abandonai toda a esperança de ver o céu outra vez, pois vou levar-vos às trevas eternas, ao fogo e ao gelo!


Lúcifer estava atrás de mim, olhando minha cara de espanto, com satisfação.

-É Caronte, o barqueiro do Inferno. Pegamos emprestado da mitologia grega... Os monstros no Inferno não são diabos ou almas perdidas, mas sim as imagens de apetites pevertidos, e vivem nos círculos de sua natureza. Ele transporta as almas para o inferno, através de uma moeda de ouro que eles têm dentro de si. Agora, quando fizemos o pacto, não dissemos que estaria incluso transporte, nem vale-alimentação! Boa sorte, alma. Queime no Inferno!


Dizendo isso, Lúcifer sumiu. Minha vontade era enfiar aquela adaga na cabeça dele, mas duvido que conseguiria... como eu iria atravessar o rio? Era por demais turbulento para eu tentar nadar! Eu ia ter que barganhar com Caronte...

Passei a seguir na direção do barqueiro, que estava de costas para mim, dando remadas numa alma que hesitava a entrar no barco. Ele parou, virando-se para mim tão de repente que me assustei e caí de costas no chão. Ele gritou irritado:

-E tu, alma vivente, te afasta desse meio pois aqui só vem morto! Tu deves seguir para outro porto, onde um barco de ouro te dará transporte!


Gelei com a voz ríspida e seca de Caronte. Ainda assim, me ergui e confrontei o velho:

-Aí que te enganas, barqueiro. Não vou para o Purgatório, meu Purgatório é aqui! Vivo como viveu Dante Alighieri há séculos atrás! Agora deixe-me passar, pois não estou aqui por qualquer motivo!

-Alma ignorante, Dante esteve aqui sob mandato de Deus! E você veio aqui porque quis! Agora, que infernos um vivente veio fazer no aqui antes do tempo? Isso não é lugar para excursão, e não vejo ouro em ti! Mesmo assim...
Os olhos vermelhos do barqueiro se abaixaram até meu peito. Eu segurei forte o pingente.

-Nunca, isso nunca! – Gritei em lágrimas. – Tudo menos isso!

-É isso que quero! Algo que tenha valor, algo que tenha importância!! E o que é esse pequeno pingente que tanto te importas, que acabaste trazendo consigo para o Inferno?


Segui para ele com raiva no olhar e adaga em mãos. O velho gargalhou.

-Achas que podes me ferir com isso? Afasta-te, sabendo que não podem te machucar se não machucares ninguém por aqui. Em caso contrário...

-Não vou tentar te ferir, velho. – Interrompi


Ele me olhou intrigado enquanto eu seguia até um mastro, tendo certeza do que faria. Até os condenados na fila me olhavam ansiosos. Coloquei a mão esquerda no mastro, com os cinco dedos bem abertos. Ergui os olhos lentamente, temoroso. Meus olhos encontraram os dele, que esperava ansiosamente por minha ação. Parecia que nunca nada intrigante havia acontecido por lá. Prossegui, sem acreditar no que eu ia fazer para não entregar esse sagrado pingente.

-Sabe, Caronte... vou falar com você sem nenhuma formalidade. Deve saber que os romanos escolheram um dedo para representar o amor.


Caronte sorriu. Sua boca ia quase de orelha a orelha, exibindo aqueles dentes tão horríveis que pareciam de madeira. Gelei. Aquele velho sádico e cobiçador realmente gostou da minha idéia! Prossegui com a voz trêmula:

-... O dedo anelar possui uma veia ligada ao coração. Ou seria uma artéria? Bem, não importa. O amor me levou para o Inferno, então... para me desvincular do amor e cumprir minha missão...


Todos olhavam aflitos. Peguei a adaga e posicionei na primeira junta do meu dedo anelar esquerdo. Respirei fundo e terminei a frase.

-...te ofereço o dedo que simboliza o amor eterno.


Então, cortei meu dedo fora com duas passadas da adaga. A adaga cortava fundo e diretamente, como um bisturi. A dor era imensa, o sangue jorrava de meu dedo, enquanto as almas condenadas começaram a rir descontroladamente. Caronte também ria de meu sacrifício, parecia que o próprio rio Aqueronte, os gemidos no ar, e até mesmo o sol vermelho riam de mim. Não uma risada ridicularizadora, mas sim uma risada do mais profundo tesão sádico.

Eu me ergui, chorando com a dor da perda do dedo, o desespero, o medo. Ergui minha mão , segurando o dedo decepado na primeira dobra do dedo. Minha mão esquerda tinha um pequeno cotoco, quase metade do dedo, aonde eu havia removido ele. Caronte pegou o dedo, tocando minha mão com aqueles dedos longos, secos e gélidos. Com um sorriso, engoliu o dedo inteiro. Foi grotesco, nojento, horrível. Virei o rosto de nojo ao ver uma parte de meu corpo ser profanada assim. Lúcifer me encarava. O sorriso irônico dele não estava mais lá, mas sim uma cara emburrada. Ele soltou o vocabulário:

-Olha só o que você fez! Um segundo que eu me vou e olha para isso!!! O barco está atrasado, essa multidão... Até Jesus está perdendo a paciência com essa demora, garoto. Era para você apodrecer aqui, sabia? E agora... vira uma sessão de automultilação? De masoquismo exagerado? Certo, se você quer tanto assim ir para o Inferno, entre no barco, porque a passagem você conquistou. Agora comece as suas preces... pois será difícil daqui para frente.


Sumindo denovo naquela fumaça negra, ele se foi. Ao virar, subi a rampa dos condenado e achei uma cadeira vermelha esperando por mim. Me sentei e notei que a hemorragia havia misteriosamente parado. Era um milagre?
Não importava mais. Coloquei as mãos em minha cabeça, apertando os olhos, enquanto Caronte repetia satisfeito:

“Almas ruins, vim buscar-vos para o castigo eterno! Abandonai toda a esperança de ver o céu outra vez, pois vou levar-vos às trevas eternas, ao fogo e ao gelo!”

Logo, a rampa subiu e o barqueiro começou a remar. Eu entrava oficialmente no Inferno.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A Canção do Imortal

Vi uma explosão
Vi trevas se partirem
Vi a criação
Vi os vivos caírem


Vi a água, vi a vida
Vi o começo do mundo
Acompanhei tudo, querida
Vi o sofrimento profundo


Vi o homem se organizando
Vi anjos se corrompendo
Vi as guerras começando
Vi o inferno ardendo


Vi o Messias crucificado
Vi o mar partido ao meio
Vi o rico exaltado
E o pobre em devaneio


Vi a praga e a peste
A fome e a dor
Sombras no coração agreste
E o fim do amor


Vi inocentes queimados
Em nome do verdadeiro Deus
Vi ciganos torturados
Por supostos pecados seus


Vi a estupros no matagal
Vi incesto, vi pecado
Vi o dilúvio universal
Vi o mal mais dedicado


Vi o homem sucumbir
Vi a sociedade desabar
Vi a honestidade sumir
Vi a morte se aproximar


Vi nações ferozes
Que atacaram derrotados
Lançando bombas atrozes
Matando um país de condenados


Vi guerra sem motivos
Pobres entregues à sorte
Vi chegar entre os vivos
A infame semente da morte


Vi guerreiros honrados
de uma raça oportunista
Sucumbirem aos pecados
De uma sociedade finalista


Vi o bens intangíveis
Vendidos á quem se retira
Vi cenas inesquecíveis
De desigualdade e mentira


Vi Cruzadas acontecerem
Vi Sangue oferecido
Ví demônios aparecerem
Vi o católico corrompido


Vi rituais profanos
Que entregaram o homem
Que como tudo é passageiro
Chegam, lutam e somem


Vi o homem sucumbir
Com suas nações profanas
Vi o mundo sumir
Nas garras insaciáveis humanas


Ó, Deus, tenha piedade
Peço do fundo do coração
Pois essa humanidade
Não mais merece perdão


Peço piedade para mim, Senhor
Pois depois de tudo que vi
Vi a beleza do mundo depor
E desse mundo sujo sumi

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Sexo no Incêndio

[EM PROCESSO DE EDIÇÃO, BREVE VERSÃO MELHORADA]

Ele estava consumido pela raiva, e essa sensação se somava ao calor sufocante das chamas daquele lugar. Era o fogo que ia consumir dolorosamente sua carne, fazê-lo sofrer e pagar por seus erros. A garota que o forçava contra o chão quente no meio da escadaria rebolava em suas pernas, com suas mãos soadas passando por seu peitoral. Seus olhos verdes refletiam as chamas, deixando-os numa coloração alaranjada demoníaca. Ele tentou engolir, mas sua garganta ardia e estava seca.

Enquanto memórias de seus erros começavam a se tornar póstumas, a vontade de morrer, de matar, tudo se misturava naquele inferno escaldante. A visão do arrependimento sumia para dar lugar à um ódio doentio de tudo e todos. Com toda a força de seu corpo, rasgou a camiseta branca da garota. Aqueles olhos... eles personificavam o mal, aquele olhar frio e sedutor em meio á morte... Aquela cópula que selaria o destino de ambas aquelas vidas, e todo o mal que causaram ao seu redor.

Ela não passava de um avatar. Um corpo que de tão lindo, poderia vir da Acrópole. Mas ao ver o fundo de sua alma, qualquer pessoa veria o sofrimento do mais profundo dos Tártaros. Seu sorriso parecia inocente á primeira vista, mas escondia tanta maldade, e tanta impiedade, que assassinos sentiriam calafrios ao ouvir sobre suas ambições.

Durante aquela cópula intensa, ele perdia o ar, tossia ao inalar fumaça, mas aquilo não parava, não acabava. Era o inferno mostrando a tênue linha entre prazer e morte. Ele tentava se leventar, tentava se arrepender, mas seu coração já estava tomado pelo momento. Sua alma era lambida pelas labaredas profanas que emanavam dos andares abaixo. Ele estava possuído pelo rancor. Ele não aceitava sua renegação. Agarrou as pernas grossas e rígidas da garota, e passou a coitá-la violentamente. O som de destruição e queimada abafava os gemidos da garota, que se contorcia de prazer e asfixia.

Tanta vontade de fazer o bem á todos, tanta vontade de agradar quem amava... tanta bondade o destruiu. Ao perceber o que o mundo fazia com ele, ao perceber o respeito que ele recebia por tratar as pessoas bem, o ódio o consumiu. Esse era o porquê de sua existência. Assim como num livro que lera quando adolescente, o ódio era tudo para ele. O ódio era seu amor, seu motivo. Ele odiava amar, e amava odiar. Escolheu esse lugar para lembrar que manipulou, destruiu, feriu, matou... e essa personificação dos prazeres carnais que estava com uma parte de seu corpo dentro de si... ela era a sua algoz, e ele a escolheu.

As chamas estavam muito próximas, seus corpos soados começavam a secar num atrito doloroso, que formava um oxímoro com a aproximação do orgasmo do bancário. Ele nunca quis ser bancário, queria ser ator. No entanto, sua mãe nunca aprovou. Pequenas coisas se acumulam e fazem uma montanha colossal.
Seus olhos ficavam escurecidos, enquanto sua visão perdia o foco nos seios da garota. Tudo era um alaranjado escuro, e a sensação de orgasmo veio, retirando-lhe um gemido, que foi calado pela boca da garota.

Sua língua seca com gosto de cinzas roçava contra a dele, a sensação de orgasmo adormecera seu corpo, e os beijos intensos se transformavam em lambidas e mordidas, enquanto ela insistentemente fazia o movimento de coito, lhe causando uma agonia insuportável. Uma agonia prazerosa. Ele tentou se segurar em algo, tal como uma barra de ferro, mas o calor queimou sua mão.

A garota pegou sua mão queimada e a lambeu. Ela sentia prazer com a dor horrorosa que ele sentia, e seu membro já estava rígido novamente. Ele ouviu o sino de uma igreja não muito distante, e a sirene do corpo de bombeiros. Nesse vacilo, identificando os sons, ele sentiu algo o apertando os pulsos: ele estava amarrado! Preso por uma corrente de ferro!

As chamas começaram a fazê-lo agonizar, gritar, sofrer, enquanto a garota de seios lindos montada em seu membro se apoiava gemendo de sofrimento e prazer. Ela não desmontava, nem com as chamas a sufocando, ela não desmontava, nem com o garoto tendo a pele aberta pelas chamas. Ela não desmontava nem com o fogo secando seus olhos e destruindo seu corpo. Ela não desmontou nem depois de morta, permanecendo para sempre com aquele sorriso em seu corpo carbonizado. Aquele sorriso seguido da expressão de horror do garoto.

domingo, 5 de setembro de 2010

Inferno - O começo

Esse será um conto em primeira pessoa dividido em diversos capítulos. Claramente baseado na Bíblia Sagrada e em A Divina Comédia, peço para que aqueles que se consideram extremamente religiosos que não leiam os contos da série Inferno.

Muito grato,
Isaque Lazaro.












"E eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas." Mat. 10:16


------------------------------------------------------------------------------



Estava eu sentado em minha escrivaninha, e a lua brilhava lá fora um brilho amarelado. Minha alma triste se coloria em sépia, como aquela lua se mostrava. Minhas mãos não escreviam boas histórias, e era a única coisa que eu pensava saber fazer. O que eu faria então?

Sem boas estórias, eu seria um inútil nessa vida, não serviria para nada. Nunca fui um escritor excepcional, mas sem inspiração, eu não seria nem mesmo um escritor.
Livros de ocultismo residiam sobre minha mesa, toda forma de estudos sobre a mitologia estavam em minha estante. O paganismo dominava aquele aposento antes tomado pelo Feng Shui. Acabara de ler A Divina Comédia.

Naquele momento, invejei Alighieri do fundo de minha alma. Odiei-o, pois ele seria para sempre lembrado por ter visto os círculos do inferno. No entanto, se eu tivesse tido eu, com certeza faria um trabalho melhor!

...

Uma idéia veio na minha mente. Uma idéia de proporções idênticas á meu desespero e sofrimento. Era chagada a hora de ter renome, e para isso, eu faria a coisa mais imbecil que um ser humano jamais fez: Evoquei ás forças do Abismo.

- Ó, força que veio á minha presença. Muitos homens selam pactos contigo, e todos se arrependem. Estou ciente de meus feitos desde um simples adolescente. Conheço por lendas tua imensa força, e fui ensinado a temê-la, mas não temo mal algum! O Criador está com todos aqueles que odeiam as forças do Maligno, quer eles sigam o Caminho Celestial da forma tradicional ou não. Agora, Ó Maldito, apareça diante de mim, e ouça minha proposta!

Aí, o pesadelo começou.

Meu corpo já não mais me obedecia, e meus olhos não mais se abriam. Senti minha alma ligada no Mar Astral, onde os sonhos não são apenas sonhos. No entanto, eu estava completamente consciente de minhas ações.

Estava de pé no meio de um negro infinito, e uma luz fraca emanava de meu corpo. Uma presença negra olhava sobre minha existência, como um leopardo se esgueirando até uma pobre presa desavisada. No entanto, eu sabia exatamente o que vinha para mim.

E um forte vento circulou a área em que eu me encontrava. Esse vento cortante parecia um urro de dor, e meus sentidos se confundiam em meio á cólera infernal que tomava aquele lugar. Uma tontura me derrubou em meus joelhos, mas eu nunca fui fraco, e me levantei após um breve instante, apenas para notar três espectros diante de mim.

Um deles tinha um corpo com aparência humanóide feminino, e uma serpente envolvia luxuosamente seus braços espectrais. Já o outro era como feito de fumaça, no corpo de um homem. O terceiro e último tinha uma forma não humana, porém não era um animal. Grandes chifres emanavam da cabeça da colossal figura. Com um brilhante olhar, as outras duas sumiram.

- Demônio que diante de mim aparece, lhe peço para que ouça minha prece!

E respondeu-me a criatura, com uma estrondosa voz:

-Pois responda filho dos servos do Santo. Tendes me evocado, e com algo seu daqui sairei!

Um temor bateu meu peito.

- Veja, criatura abominável. Minh’alma não mais possui o dom para escrever. Sei que teus feitos em teu domínio são tomados de teu livre-arbítrio. E em sua infinita idade, deves ter criado engenhosas formas de punir os errados. Quero que mostre-me essas atrocidades. Mostre-me o que acontece com aqueles que fogem do caminho reto, para que eu possa contar ao mundo, e ter meu lugar no mesmo!

- Garoto irresponsável. Não sou eu quem pune os malditos, mas sim meu Pai. Sou apenas um instrumento sendo eternamente punido. Se quiseres ver o inferno, morra! E assim, te esperarei em meu trono. Que hás de dar-me em troca por essa pequena viagem em meu domínio de fogo eterno? – Respondeu a Besta, com sua imponente presença.

- Todo ser humano possui um pouco de cada pecado dentro de si. É isso que nos difere dos santos, e nos faz tão ricos de vida! Teste-me em cada círculo do inferno, e faça-me enfrentar minhas fraquezas! Se eu sucumbir ao pecado, me mantenha cativo para sempre em seu domínio de horror. Caso eu for forte, e minha alma não for pelos seus servos arrancada, eu saio do inferno, e pego meu lugar de direito na sociedade. Além disso, enquanto eu estou no Abismo, que a Terra permaneça parada, para que ninguém note minha ausência. Se eu falhar, que eu seja encontrado morto em corpo. Está de acordo?

Uma grotesca gargalhada deliciou-se com minha fala.

-Você acha mesmo que pode escapar de minhas tentações, garoto? A aposta está feita agora, e nada te fará voltar para sua vida! Por que faz esse trato com aquele que em uma fração de tempo corrompeu uma Igreja por completo?

Parei, e pensei. Por fim, respondi:

- Porque eu sei que assim, encontrarei redenção.

Um grande Vórtex então tomou meu corpo, levitando-o. Uma energia negra tentava invadir meu corpo, enquanto a luz de minha alma me impedia de ser tomado por aquilo. De repente, vi que pouco a pouco, eu ficava translúcido. Num último momento de racionalidade, gritei, em meio á imensidão de sons daquele vórtex:

-Senhor, nosso Pai que estás nos Céus! Entrarei na morada do inimigo, e não sei se de lá sairei. Sou apenas um servo, meu Pai, mas eu sei que apenas assim serei merecedor novamente de entrar em teu Reino de Glória. Senhor, conceda-me a força e a fé necessários para cruzar o lar do Maldito, e seu nome será eternamente por mim glorificado! Amém!

Com essas palavras, tudo se apagou. Desmaiei, e minha alma começou a ser levada para onde o horror começaria. Embarcava naquele momento no Inferno.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O Motivo

Esse conto foi deletado do blog.
Seu conteúdo não servia para absolutamente nada aqui, mas eis um resumo:

O sentido da vida está em acreditar que no fim, tudo dá certo. O sentido da vida está em mentir para si mesmo até a mentira se tornar uma verdade.

domingo, 22 de agosto de 2010

Amor

Agora fazem sete anos que Arkham saiu de casa. Guiado apenas por suas lembranças, a verdade jamais se calaria em seu peito.

Ele estava apenas há 20 metros da torre, e sentou para pensar em tudo que o levou até aquele momento. Lembrou-se de ondas quebrando-se contra as rochas, e um barco indo em direção ao infinito horizonte, um aperto no coração.

“E o amor, para que serve?” – Murmurou. Sentimentos reprimidos pela primeira vez tinham sua chance de argumentar. Sentimentos não lhe garantiram uma vida digna. Na verdade, nem sequer lhe garantiram uma vida.

Seus lábios secos e rachados mostravam um sorriso puro. Finalmente ele iria alcançar seu sonho. Abriu a pesada porta de madeira, e entrou na torre.

Um cheiro de podre se misturava com a aura negra daquele lugar marcado pela necromancia. As escadas espirais misturavam-se com a escuridão, e feixes de luz vinham das poucas janelas sem vidro. Ela estava ali dentro.

Arkham subiu as escadas correndo. Ele estaria cara a cara com ela, finalmente. Foram longos anos, sofridos e dolorosos. Pessoas morreram, pessoas choraram, e os dias se passaram lentamente, para se assegurar que ele sofreria o suficiente para ter a alma limpa nesse momento tão sublime.

No topo da torre, segurou a enorme maçaneta da porta onde sua princesa o esperava há tanto tempo. Todos falaram que ela não estaria lá, mas ele sabia que nisso, o amor não mentiria.

Sonhos o perseguiam durante cada noite, mostrando que ela sofria sem ele, e que ainda o esperava para se encontrarem novamente. Após essa breve reflexão, abriu a porta.

O quarto estava muito maltratado pelo tempo, muitas teias de aranha tomavam conta do lugar. As cortinas rasgadas e empoeiradas balançavam com o vento trazido junto com a luz avermelhada daquele crepúsculo. E sob o sujo e fino lençol que um dia foi branco, ela repousava.

Todos pagaram a língua. Todos então saberiam que ela ainda o esperava, e que eles estariam juntos eternamente. Seguiu lentamente, sem fazer barulho, e se sentou na borda da cama. A expressão de calma no rosto aveludado de sua princesa acalmou sua alma.

“Cheguei, minha amada.” Murmurou Arkham, passando a mão pelos sedosos cabelos negros da adormecida. Lentamente, abaixou-se, e tocou os lábios gélidos da princesa com um beijo, e a colocou no colo, subindo a leva final de escadas, e chegando ao telhado da torre.

Quatro canhões enferrujados estavam lá, cada um apontando para um ponto cardeal. As ondas chocavam-se fortemente contra as rochas, e um pequeno barco retornava do infinito horizonte. Tudo ocorreu dentro do tempo.

“Eu sabia que você ainda estava me esperando.” – Disse Arkham em voz alta, tentando fazer sua voz sobrepor o forte vento que jogava seus cabelos dourados para trás. Ajoelhou – se, e deitou o cadáver de sua amada em sua frente. Com um punhal, atravessou sua mão, e com o sangue escorrendo, escreveu no chão:


“Passem anos, passem décadas, nunca serás esquecida.
Tu me esperaste tranqüila sob a tempestade.
Pois eis que cheguei, e estás acolhida,
Estaremos juntos por toda a eternidade.”


Com essas palavras ditas, e o corpo fraco pela perda de sangue, encarou lá embaixo, onde a população invadia a torre com suas tochas e forcados.
“Até a eternidade...”- Murmurou, e saltou da torre.

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More