sábado, 29 de outubro de 2011

Te esperando

Ah, a acústica sob esse holofote.
Ah, os ecos de sua voz..
Ah, as sombras nesse anfiteatro
Assistindo a mim, assistindo a nós.

Eu gostaria de rir também,
Mas é como se eu estivesse caindo.
E não há nada que eu possa fazer
Fora fechar os olhos e mergulhar além

Tentamos andar direto pelo caminho que começou no pecado.
Conseguimos agir certo, mesmo quando o mundo estava errado.
Um violão toca solitário no escuro atrás de nós; o que ele toca?
Me pergunto se você ouve meu chamado.

Por trás de meu sorriso, escondi tantas lágrimas.
Para ver tua felicidade, enfrentaria tantas lástimas.
Ouvi tantos adeus em vida. Não há nada que eu possa fazer
Fora fechar os olhos e mergulhar além?

Quando você esteve no escuro e sozinha
Era como se alguém estivesse sempre te olhando.
Essa presença, sempre se aproximando
Querendo desferir o golpe, mas sem poder tocar a bainha.

E agora que os papéis inverteram
Quem deve estar nos assistindo?
E depois que os erros aconteceram
Será que vou acabar a história sorrindo?

Eu estou aqui te esperando.
Mesmo que não te veja, não possa te encontrar.
Eu estarei aqui te esperando.
Eu estarei para sempre te esperando.

Não acredito que me veja como infortúnio
Pois vejo sinceridade até em suas omissões
Uma lâmina não pode cortar a essência
Nem o sentimento, nem a eternidade.

Mas eu gostaria de ver sentido no mundo.
É como se eu estivesse caindo!
Mas sei que se abrir os braços eu vôo
No horizonte o futuro vai surgindo.

Algumas coisas jamais deveriam ser ditas
E alguns pensamentos deveriam permanecer omissos.
O que aconteceu? Que são essas correntes partidas?
Um sorriso no rosto capaz de deixar os demais submissos.

Porquê quero estar aqui te esperando.
Mesmo que eu morra, não possa mais estar,
Eu estarei aqui te esperando.
Eu estarei para sempre te esperando.

Como se meu sangue dependesse de sua carne
E minha visão dependesse de seus olhos,
Só sua presença me faz ignorar o chão cadáver
Dentre todos os moribundos; bêbados sóbrios.

Mas eu estou aqui.
Onde você está? Eu quero te achar!
E esse violão tocando uma sonata solitária.
Aguardando sozinho o dia que não chegará

Duas metades óbvias
As quais no mundo não há demais par.
Acariciando o outro na dor, fazendo-o rir na desgraça.
Uma realidade tão boa que não se precisa mais sonhar.

Eu sinto mais do que o suficiente em meu coração
Seu chamado.
Não há mais nada dentro de mim, estou transbordando
É assim que deve ser.

Existe mesmo peça que se encaixe nesse espaço que tenho?
Se sim, ela esteve e está o tempo todo próxima de mim.
Tão inseparável, tão insubstituível
O maior pedaço de meu amor sem fim.

E eu estou aqui te esperando.
Sob castigos, doença, sofrimento e desesperança.
Eu estarei aqui te esperando.
Eu estarei para sempre te esperando.

Eu estou aqui te esperando.
Minha atenção será só sua caso se sinta sozinha.
Eu estarei aqui te esperando.
Eu estarei para sempre te esperando.

domingo, 16 de outubro de 2011

A Chuva

Gotas de pesar despencam do infinito,
O escuro chora sobre nós incessante.
É inescapável o sofrimento em mim inscrito.
O fim solitário de um caminho errante.

As árvores secas nessa noite de verdades,
Testemunhas mortas do julgamento injusto,
Retorcem-se em horror à nossas vaidades
E cedem de volta no ciclo augusto.

Cai a chuva nessa noite solitária
E nenhuma alma segurará minha mão.
Meu choro unir-se-á à chuva nessa ária
E o mundo ignorará essa canção.

Nos pântanos pútridos e mórbidos
Agonizam perenemente os anjos caídos.
Aprisionados ao deixar os caminhos acólitos
Choram, de suas asas destituídos.

A única luz hoje será a de raios raivosos
Que fustigam a terra com golpes inclementes
Inibindo-a com seus brados ruidosos
Me mantendo em castigos permanentes.

Pois o homem que desafia o próprio destino
E põe seus sentimentos acima do fadário
Seguirá eternamente a vida sob triste hino
Sem a chance de estar novamente sob rosário

Enterrado entre mortos sem nome
Nesse baile faço par com anjos caídos
Que por acreditar, morrem de fome
Agonizantes, assustados e esquecidos.

A rosa negra desamparada,
Sozinha sob a chuva assoladora,
Vivendo seu último momento calada,
Punida nessa noite assustadora.

Rastejando humilhado para o fim,
Esforço-me para respirar e seguir o caminho.
Tentando me ocultar do motim
Me encontro derrubado, vazio e sozinho.

Oh, e a chuva não leva de mim a tristeza!
A solidão e o pesar encravados fundo em meu peito!
Chuva! Choro por tua gentileza!
Ouça-me, pois por redenção e paz tudo aceito!

A terra é purificada pelas lagrimas tuas
Então lava-me em meu desespero!
Preencha meu vazio com tuas gotas nuas
Que me atingem desse modo austero!

Na terra encharcada ajoelhado
Sem redenção por tentar ser amado
Sob as próprias lágrimas afogado
Caído num infinito negro. Derrotado.

Cai a chuva nessa noite solitária
E nenhuma alma segurará minha mão.
Meu choro unir-se-á à chuva nessa ária
E o mundo ignorará essa canção.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Náusea

Sozinho no escuro, os olhos inutilmente fechados por medo.
Em prantos. Tenho-te ao meu lado e não te toco. E talvez não me importe.
Talvez tente não me importar. Talvez me importe tanto que não consiga demonstrar.
Talvez tenha demonstrado tanto que não deva mais fazê-lo.

O céu é alaranjado com verde.
O mundo tão podre que os pássaros carniceiros fogem de desgosto.
A sociedade corrompida, o amor denegrido.
As lágrimas são o sal que tempera o mundo.

O vento uiva com o som de mil gritos.
As pessoas marchando como porcos imundos para o abate.
Escorregando nas próprias fezes, alimentando-se do próprio vômito.
Presos em sua existência vã. Sem visão, sem existência, sem sonhos.

Sem a ideia de fraqueza não há o forte. Sem a ideia de vida não há a morte.
E seu abraço é só uma lembrança.
E sem consolo, sem esperança.
Eu abandono o mundo, abandono eu mesmo.

Eu me debato entre náufragos
Num mar de pus e sangue. Fétido e azedo.
Meu corpo se arrepia de nojo. Sinto que vou desmaiar.
Uma proa cai e me leva até a terra.

Eu vomito.
Nada em meu estômago, estou vomitando bílis.
Estou vomitando o que restou de esperança.
Em mim, em nós.

O sol se racha.
Nele se abre uma vulva. Fedida, peluda.
Dela escorre uma gosma branco-amarelada.
Podre.

Podre como todos.
Cercando-nos como vermes famintos e irracionais.
Rastejando pelo chão enlameado por eles mesmos.
Grunhindo seus prantos indistinguíveis e idênticos.

Meus olhos se contorcem em horror.
Peço que as aves carniceiras retornem e levem-nos de meu rosto,
Peço ao Deus surdo que me apague.
Pois a batalha já foi perdida e estou lutando contra o nada.

Mas ele não é surdo.
Ele está ouvindo cada grito e está gostando.
O mundo já acabou faz tempo; insistimos em nossa existência.
Procriamos como moscas numa carcaça. Esse é o inferno.

O que é pior?
Ser triste ou não sentir nada?
Sofrer ou morrer?
A beleza do sofrimento está na esperança.
A esperança está presa ao mesmo tão firme quanto às unhas em nossa carne.
E dói tanto quanto ao ser removida à força.
E faz tanta falta quanto.
E causa tanto vazio quanto.

A beleza da morte é o vazio.
Vazio puro, mórbido, gelado.
Ausente, amoral, atemporal.
Inexistente e eterno.
O motivo pelo qual vivemos é a morte.

É inevitável.
Nosso destino imutável.
Vamos todos tornar-nos corpos inertes um dia.
E nesse dia saberemos como é não sentir nada.

A esperança me corrompe.
Minhas entranhas se contorcem e engasgo em meu próprio vômito.
Em algum lugar, alguém se excita com isso.
Muito calor, preciso respirar.

O fedor de seu corpo é azedo, sua pele escorregadia.

A coceira não passa.
Estou sem unhas e minha pele arde.
E ao redor eles olham e murmuram.
E se rastejam nos próprios restos, eles criam a própria lepra.

Eu me rasgo entre vinhas de ossos.
Pessoas ainda vivas com as farpas de seus corpos para fora.
Eu esbarro nelas. Gemidos de dor e súplica.
No escuro, alguém se masturba vendo isso.

Eles não querem salvação.
No lugar do céu laranja e verde, eles veem um azul angelical.
Eles cegam a si mesmos.
Sabem que estão errados. Gostam de estar errados.

Não há o que vomitar mesmo que meu estômago cole suas paredes.

Meu corpo trêmulo e fraco não quer seguir. Então por que sigo?
A esperança me corrompeu. A felicidade me corrompeu.
Sigo em frente mesmo sabendo que no fim só há a morte.
A esperança fez o céu parecer azul...
A facada final me mostrou o mar de pus.
É sempre um ciclo. Sempre um ciclo.
Felizes, de guarda baixa, o mundo nos engana.

Talvez eu siga em frente porque já estou preso nessa situação.
O fedor do pus impuro me deixa tonto.
Deixa o sangue derramado laranja.
A bílis seca na areia... cinza.

E ainda temos coragem de acreditar no amor?
Felizes os que conseguem alguém que os aceite!
Os demais estão presos no inferno comigo!
Rastejando-se em catarro para aliviar o atrito no chão, na realidade!

Alguém se rasga com as próprias unhas.
A carne aberta para fora como uma flor desabrochando.
Derramando seiva sangrenta.
Desabrochando dores, horrores.

Risadas histéricas.
Loucura. Loucura?
Quem é o louco? Eu ou eles? Ou ela?
Quem é normal? Quem é puro?

Quem é justo o bastante para julgar os demais?
Quem é cego o bastante para não ver os demais?

Vomito. Vomito sangue e bílis.
Vomito você. Vomito nós. Vomito tudo.
Não tenho forças para tentar suicídio.
Sou fraco demais para desistir.

Talvez romântico demais.
Sigo em frente.
O mundo está doente.
Deixo tudo para trás,

Ainda sabendo que voltarei a olhar os caídos.
Isso é o inferno! Você sabe que está no inferno!
Não há um segundo de silêncio entre os gemidos dos condenados.
Eu estou gemendo junto. Eu caí.

Azia durante o macio e quente.
Caminho nessa diarreia,
Asfixiado pelo mau hálito do povo.
Caio em meus joelhos e a amargura me estupra.
O mundo está decadente...

... E não há cura.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A Flâmula

Pressão em meus ouvidos, o ar diminuindo.
Declinando entre os caídos, a esperança vai sumindo.
Agora não há nada que se possa fazer.
Não há volta depois de acontecer.

Durma, durma em suas memórias
Aconchegada e protegida pela ignorância
Feche os olhos e fuja de nossas histórias
Viva satisfeita e perseguida pela relutância.

Tão insignificante.
Está dormindo profundamente nos confins da Terra.
Irá se levantar, avante!
Desprovido de sentido, acima sua sagaz ação erra!

Se arrastando pela lama fétida
Vermes carniceiros dançam à sua boca.
Preto-e-branca a haste de tua imagem cética.
A flâmula de tua lembrança louca.

As cores se misturam
Um pavilhão de horrores
Uma miríade de homens juram
Nunca ter enganado seus amores.

Se arrastando pela lama fétida
Vermes carniceiros dançam à sua boca.
Preto-e-branca a haste de tua imagem cética.
A flâmula de tua lembrança louca.

A flâmula de tua lembrança louca.
O último grito de minha voz rouca.

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More