domingo, 27 de fevereiro de 2011

Platonicismo

Caros leitores.
Esse conto é uma continuação direta do conto que inaugurou a Névoa, Amor. Se não leu esse conto ainda, não prossiga, e leia no link abaixo:
http://contosdanevoa.blogspot.com/2010/08/amor.html

Obrigado
Isaque Lazaro



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Oliver era o seu nome.

O rapaz de cabelos ralos e negros andava em meio à neve, enquanto se lembrava de seu amigo de infância, Arkham. Ele sorri.
Ambos acabaram tendo seus destinos traçados por sentimentos que fazem o homem frágil, e ambos teriam um desfecho infeliz. Ele sentia isso. Arkham tinha esperança, ele tinha ceticismo. Amelia... a garota de olhos azuis escuros e cabelos de cor dourada que quase lembravam ouro velho.

Ele sabia que estava sendo enganado o tempo todo. Desde que Arkham e ele conheceram Amelia e Liliana naquela noite. O tempo se passou, e ele e Amelia se tocaram. Aquela pele gélida dela o assombrava. A neve parecia mais quente do que a menina. Eles deviam ter dezesseis anos na época.

O tempo se passou, e todos eles cresceram. Ele nunca viu Amelia de manhã nas ruas, mas sempre via o pai dela. Ele andava de modo como se estivesse tentando fugir de alguém durante o tempo todo. Durante as noites ele a via próximo de sua casa, sempre sentada sozinha. Aqueles lábios dela o atraíam, e ele não entendia o porquê. Ele não se importava com o motivo, mas parecia que aquela garota solitária e calada era a pessoa por quem ele sentiria prazer em sofrer. Dois anos se passaram, e Liliana sumiu. Arkham partiu atrás dela, dizendo que saberia onde encontrá-la. Esses dois anos mudaram muitas coisas, mas Amélia não mudou.

O tempo não a abalava, e ela continuava com seus dezesseis anos. Ela parecia relutante em ser amiga de Oliver, e ele não se importava. Ele se sentia forte ao lado dela, ele se sentia alguém. Ela devia esconder algo, mas por algum motivo ele não se importava.

Chegou um dia em que o pai dela foi encontrado morto. Ela não chorou. Ele seguiu até a casa simples de madeira onde ela morava. Era numa grande clareira na boca de uma floresta, com três grandes árvores, uma delas seca. Flores de todo tipo cresciam por toda a extensão da área, e uma torre com um farol e quatro canhões se mostrava no horizonte. Ele bateu na porta.
-Amelia?

Ela abriu a porta, olhando-o de baixo para cima, com uma expressão de insegurança.
-Amelia... eu sinto muito por seu pai. – Oliver engoliu seco. – Eu sei como dói perder o pai... eu tinha treze quando aconteceu.

-Ele não era meu pai. – Amelia respondeu com sua voz sussurrante e doce. Sua cabeça baixa, sua pele gélida parecia mais alva naquela noite de outono tão fortemente iluminada pelo luar.

-Ah... eu não sabia. Mas... isso não te magoou? – Ele perguntou, já confuso em reação à situação. Ela sorriu de canto com aquele olhar vazio. Ele percebeu que ela estava sem esperanças no rosto, mas...





...Ela o beijou.
Seus lábios eram macios e frios, e tocaram se colando nos dele por um breve momento. Ele ficou parado. A pele dela trouxe um calor dentro dele. Ele pediu para entrar.

Aquela noite os consagrou juntos. Ele teve o corpo dela, e ela o dele. Ela era forte, e tímida. Sua face era melancólica, mas atraente. Seu corpo era gelado, mas aquecia ele por dentro. Em meio a tantos oxímoros, ele entregou seu coração à ela finalmente.

Mais um ano se passou, e ela continuava intacta, bela, jovem... Eles se viam toda noite e aos poucos, ele se submetia mais à ela. Não fazia muito tempo desde que ele ouviu os rumores de que Liliana havia sido trancada na torre. Arkham estaria de volta em breve... mas nesse meio tempo, algo aconteceu, e tudo foi esclarecido.

Amelia sempre foi uma pessoa muito educada. Exigia permissão para entrar em sua casa até mesmo sabendo que ele morava sozinho. Ela parecia não envelhecer nem mentalmente, nem corporalmente. Seu corpo era gélido... tudo fazia sentido.
Mais seis meses se passaram, e ele já sabia de tudo. Mas não importava mais. Ele estava satisfeito assim. Era ridículo acreditar que Amelia o amava. Mas ela alimentava o amor dela, e ele a alimentava. Era óbvio demais se Amelia o fizesse, então ele caçava para ela. Era perigoso? Sim, era. Ele podia ser morto como o “pai” dela, mas era o único jeito. Ele não mais vivia sem as carícias de Amelia.

É ridículo acreditar que um morto possa amar, mas se fosse assim, poderia um homem amar um morto? Não mais importava. O sol já se punha no horizonte, e era hora de caçar. Até que o suspeito dos assassinatos recentes apareceu. Aquele que amava uma morta.

Acreditarem que Arkham matou essas pessoas em rituais demoníacos foi uma boa cobertura para que ele caçasse sangue fresco para Amelia, mas agora, ele estava de volta, e havia entrado na torre. O suposto culpado seria morto na torre mesmo...

Era triste, Oliver sentiu um aperto no coração. Mas nada mais podia ser feito. Saciar Amelia, saciar o motivo de sua vida... isso era mais importante. Uma pequena embarcação voltava para a praia pelo horizonte, e as ondas se quebravam nas rochas. Seu destino seria um pouco melhor, ao menos... mas ele precisava partir dali com Amelia. Antes, ele pegou seu cantil, e sua faca e partiu para a caça, na direção oposta de uma multidão furiosa com tochas e forcados que partia para a torre...

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Reunião de Família

[EM PROCESSO DE EDIÇÃO, BREVE VERSÃO MELHORADA]


Ele estava na cama, exausto após um bom pornô em seu notebook. Havia limpado as mãos na lateral da cama, e se deitou de bruços, até que, por algum motivo o qual não entendeu, se levantou e foi até o quarto de sua irmã.

Ela tinha sete anos, e era loira dos olhos escuros, que tinham um brilho lindo. Ele dizia sempre para ela que haviam aprisionado o brilho das estrelas naqueles olhinhos. A casa estava silenciosa, escura e o frio da madrugada batia em suas canelas, a luz da rua entrava pelas janelas do corredor. Sua mãe estava trabalhando e chegaria tarde, o pai roncava no quarto.

Ao entrar no quarto, no entanto, um travesseiro cobre rosto dela. Ele não sabia quem fazia isso na garota, mas não podia fazer nada! Ela se debate em desespero tentando gritar, mas o travesseiro abafa os gritos da criança sufocada. A pele de seu rosto alvo e macio começa a ficar roxa enquanto uma lágrima de desespero e tristeza escorre pelo seu rosto. Ela se debatia com toda a força, mas o assassino era muito mais forte. Aos poucos, a força acabou no corpo delicado da princesinha enquanto aqueles olhos grandes e inocentes perdiam o brilho da vida.

Ele correu em choros soluçantes abafados. Por quê? Quem?? Ela tinha sete anos, pelo amor de Deus! Assassinaram a irmã de sete anos na frente dele! Como alguém faria isso? Ele tentou fugir, mas a porta estava trancada. As janelas eram muito altas, e não adiantava fugir por lá. Seu corpo tremia em desespero e agonia, e seu coração se contraía de pena e tristeza ao lembrar da pequena Laurana. Ela tinha tanto o que viver ainda, tanto o que fazer, e morreu abatida como um animal! Ao menos ela iria para o céu...

- ...céu? – Ele murmura baixo, e se lembra de seu pai. Seus olhos se arregalam, e ele corre para o quarto onde seu pai dormia. Seria muito tarde?

Esse iria para o céu? Dois anos atrás ele ainda bebia e batia na mãe. Uma vez, ele invadiu o quarto do garoto, pegou o taco de beisebol dele e espancou a própria esposa!! Ninguém nunca soube dessa história, todos temiam o homem... até que ele encontrou Jesus.

Há dois anos, o alcoólatra de atitudes agressivas havia se tornado um homem de bem. Seus pecados foram supostamente perdoados quando ele foi imerso numa banheira, num processo ritualístico chamado “batismo”.

Ao chegar lá, acende a luz. Tão claro... ele não conseguia enxergar por uns segundos... e sangue. Sangue?

Seu pai levou uma tacada de beisebol no pescoço, e não conseguia falar nem respirar, com o sangue saindo grosso de sua boca, e ensopando a cama e suas roupas. Seu pomo de adão estava afundado, e um hematoma enorme se formava, mostrando que uma hemorragia interna se formava. Ele perdia sangue e ar a cada segundo, até que mais uma tacada o tira a consciência. Seus olhos opacos mostravam indignação, como se ele conhecesse o assassino! Mais duas, três, quatro tacadas, e o sangue espirrava nas paredes, nas roupas de todos no quarto... quem era esse assassino? Por quê ele não lembrava??

Ele correu mais uma vez, mas em choque, tropeçou na escada, e desceu ela rolando. Enquanto os degrais açoitavam suas juntas, ele se lembrava... sua mãe. Que trabalho legal o dela. Era óbvio que nesse momento, ela estava pagando um boquete para seu chefe naquela Mercedes.

Uma última pancada na escada o faz desmaiar.

Ele acorda, sua visão estava escura, mas ele estava na escada, um calor quase sufocante estava ao seu lado... o que era? Um incêndio? O Assassino ia o matar agora? Que não fosse doloroso, ele pensa. Mas aos seus olhos se abrirem, a coisa é muito pior.

Sua mãe nunca tinha sido uma pessoa boa. Ela traía o esposo. Seus amigos dizem já terem visto vídeos eróticos dela na internet, e que ela era boa no boquete. Talvez fosse verdade. Ela descontava toda sua raiva nele, nunca em Laurana. Era injusto. Apenas pelo fato dele ser homem, ele deveria sofrer o que ela queria fazer com o pai dele e nunca conseguiu.

E agora lá estava ela. Suas pernas estavam queimadas, e seu rosto havia sido esfolado com uma pedra áspera. Arama farpado estava a amarrando na cadeira. Depois, a enrolando, e por fim, perfurando sua traquéia. Seu rosto exibia desespero, e um olhar de... reconhecimento?

Como ninguém ouviu os possíveis gritos de dor dela? Como a polícia não havia sido chamada? Ele não se sentia mal pelos pais, mas Laurana... ele não pôde fazer nada por ela. Afinal, por que porra ele não se lembrava de nada? Por que ele se mantinha em casa?? Não era hora de perguntas. Ele foge para o porão, e se tranca lá.

A polícia chegaria logo mais, ele tinha certeza disso, bastava sobreviver uns minutos! Ele pega uma faca enferrujada e se encosta na parede. Mil pensamentos queimam seu cérebro. Laurana morreu... seus pais...

Sua garganta estava seca, e doía, seu choro soluçante era abafado pela mão com a faca. Os minutos se arrastam, e ele ouvia uns passos de vez em quando... até que a sirene da polícia toca. Finalmente! Ele corre para destrancar a porta do porão, mas algo rasga sua garganta rápido, e ele cai de joelhos. O ar não entrava, e sua garganta ardia muito. As lágrimas escorriam pelo seu rosto, o sangue jorrando para fora do pescoço. Tão perto... ele morreu por nada. Ao menos agora ele tinha certeza de quem era o assassino. Estava lá: uma faca enferrujada coberta de sangue em sua mão direita.

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