segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Última Poesia



Tudo começou com meu erro.
E sete dias de silêncio que tiraram meu sossego
E meu chão se abriu no meio,
Levando meu aconchego

E minha mente,
Minha única companhia se tornou demente.
Só dor incandescente,
Chorei, fiquei doente.

Eu te amo, eu te amava, eu te amei
E o quanto doeu te ver partir só eu sei
E as palavras que eu precisava, não encontrei
Mas eu sabia que tinha que lutar, e eu lutei

Eu me ergui contra a tempestade que caía
E gritei e debati meus membros até chegar na baía.
Mas lá não havia salvação, e eu não sabia,
Mas eu não ia aceitar, eu ia lutar, eu não desistiria

Então eu fui atrás, e disse mil palavras pra você,
Para você entender,
E quem sabe até ceder
E minha alegria acontecer?


Eu baixei aquelas músicas que me lembram o bom tempo
Quando eu te tinha e a alegria estava em mim, bem lá dentro
E eu não precisava mais desconfiar e nem ter medo,
Deus, eu sinto sua falta e de tudo me arrependo

Eu passei dias cheirando meu edredom
Imaginando o seu cheiro, mas de você não tinha nem som.
Minha visão se embaçava a cada minuto que passava,
Pois era de você que eu lembrava e meu coração apertava.

E quando você estava triste, eu saí de minha casa
Cruzei a cidade, cruzaria mares e estradas
Para te ver feliz, sorrir, se animar
Então comprei as primeiras rosas e consegui te beijar.

E eu me aproximei. Queria os seus lábios para eu saborear
E isso eu consegui, mas o buraco você não quis tapar.
Eu lutei com tudo que eu tinha pra te namorar,
Eu acreditei que se lutasse você não ia me negar.

Para mim, o amor é tudo que eu precisava
Para ser feliz ao seu lado, mas vejo que não bastava.
Eu mudei, meu amor, eu mudei tarde demais,
E as minhas lágrimas agora embaçam tudo que a gente faz.

Eu te dei tudo que eu tinha dentro do meu coração,
Para comprar suas rosas eu gastei cada tostão,
Queria te ter de volta e mesmo em decepção
Eu ainda acreditei que consegui sua atenção.

Eu gritei, gritei como um condenado cada vez que doía,
Mas meu grito só te irritava e te tirava a euforia
E eu gritava por socorro, mas socorro você não podia dar
Porque você queria espaço e eu queria te namorar.

Então juntei cada centavo que eu tinha no meu bolso
E saí de casa quando deveria estar de repouso
E fui procurar o que dar para ti no seu aniversário
E fazia risquinhos coloridos todo dia no meu calendário.

Eu peguei todo o dinheiro das cartas que a gente sempre jogou
E encomendei aquele perfume que você sempre sonhou
Não saí com meus amigos, sem dinheiro nem aviso
Mas tudo valeria a pena quando eu visse seu sorriso

O tempo passou. Meu coração se apertava toda noite
Quando os pesadelos me cercavam e me lascavam o açoite
E por mais que eu te tivesse fisicamente quando eu te via,
Nosso amor estava caindo e eu sabia que não te reconquistaria

Mas eu não podia desistir,
Por mais que as lágrimas no meu rosto
me impedissem de ver e de rir.


Eu fui lá, comprei uma rosa amarela com o resto do dinheiro
Da aquarela de alegria que um dia me fez efeito
Porque queria estar aí e passar a mão no seu cabelo
Mas acho que nem isso eu fiz direito.

E aí, as noites se passaram e levaram aos poucos a confiança
Que eu tinha no começo de usar a aliança.
E o espaço no meu peito só crescia, me desesperei
E no seu aniversário eu errei.

A dor era grande e minha garganta estava machucada
Passei o tempo todo chorando na madrugada
O tempo estava me matando, me assustando mais do que escada
Eu tentei fazer de tudo, mas não adiantou de nada.


Eu peguei todo o meu dinheirinho reserva que carregava nas costas
Saí doente, matei aula, fui lá longe te comprar umas rosas
Essas rosas que pra mim significavam um grande romance
E fui planejando as palavras para ter mais uma chance

Por que meu amor não foi o suficiente?
Eu tentei, eu lutei, eu chorei, eu gritei,
Mas no fim, só atraí falha e risadas,
E aprendi que a vida não é um conto de fadas.

O amor não é o suficiente em nenhum dia,
Então resolvi escrever minha última poesia.
Os sonhos são melhores do que a realidade.
Queria ficar, mas acho que já vou tarde.



Eu me sento na cama, preparado para dormir
Uma última noite eterna e acabo por sorrir.
Pensar que um dia acreditei que ia até o fim,
E foi até o fim, e foi até o fim!

Eu queria te abraçar, eu queria aí estar,
Eu queria te beijar, te amar, te noivar, me casar, ser feliz.
Mas sempre que eu tentava, saía o inverso do que eu queria
E agora eu escrevo minha última poesia.

O escuro vem chegando, me tomando, dominando
Vem cantando, apagando, e eu lentamente vou deixando
Esse mundo onde um dia eu fui feliz.
E no fim é tu que eu quero e é tu que eu sempre quis.

A última lembrança que me vem é seu sorriso
E eu temo. Será que depois vem o paraíso?
Será que por fugir da dor assim, serei omisso
Da Lista Santa daqueles que foram escolhidos?

Mas não importa, não dói mais.
Agora tudo que eu sinto é paz.
Um dia amor fora tudo que eu sentia,

E agora vivemos pra sempre na minha última poesia.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Prólogo - Chovem as lágrimas de mil anjos


Era noite.

Chuva caía do céu como se Deus cuspisse escarniosamente em sua prole suja e errada. Porcos montam em corcéis prateados enquanto se alimentam dos frutos de árvores sagradas. Cães de guarda, tigres e águias se submetem a ajoelhar-se perante suas vontades e se alimentar de seus restos.

A lua não brilhava. De noite não há como sabermos se nuvens a cobrem ou ela não quer olhar o que esse mundo se tornou. Esperando o melhor, imagino que nuvens negras se colocaram em sua frente para chorar por sua dama, nos banhando em sua tristeza e tentando nos trazer um pouco de introspecção.

Eu estava caído ao lado de um celeiro, lama empapando minhas roupas e mãos enquanto eu pressionava o ferimento em meu estômago. Estava escuro, mas eu conseguia identificar a diferença entre o sangue e a água antes de se misturarem. Eu sentia o calor de meu corpo vazar junto com meus sentidos.

Mas infelizmente mesmo que os sentidos nos escapem por entre os dedos e a consciência enfraqueça, nunca ficamos na escuridão completa. Cada escolha que fazemos em vida é uma vela que acendemos, e quando a escuridão se põe à nossa frente, não podemos ignorar o brilho que está atrás. O passado está sempre lá. Sempre arranhando as laterais de nossa visão com sua luminescência amarelada para lembrar que ainda existe.

Encarar o passado é uma escolha binária: olhar ou fechar os olhos. E não importa a escolha, ele sempre estará lá.

Cada vela que acendi se passava diante de meus olhos. Parecia que eu era capaz de reviver dias de meu passado entre cada batida de meu coração e cada cuspida de sangue que meu corpo dava. E isso era muito mais dolorido do que o tiro. Fechar os olhos te força a olhar para as trevas que estão dentro de você.

Minhas forças estavam acabando junto com meu sangue, mas ainda havia sangue o suficiente para uma última tentativa.

Eu jamais conseguiria melhorar a situação, mas precisava impedi-la de ficar pior.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Metamorfose


Nem o vento ousava soprar
Enquanto eu repousava afastado.
Nuvens carregadas cobrem o céu
E trovões rugem com fúria destruidora.

Suas promessas vãs não me afetam mais,
Quer ver caos? Quer ver dor?
Você me deu a mão para me ver cair uma distância maior,
Mas ninguém pode me matar!

Você se acomodou enquanto eu estava no casulo,
Mas quando eu abrir minhas asas choverá fogo!
Assim você nunca esquecerá meu nome.
Eu não sou mais um, querida.

Não deixe os disfarces te enganarem,
Ao seu redor, todos querem sua derrota.
Antes eu farejava o ódio ao redor,
Agora eu sou a lâmina nas suas costas.

Me engane uma vez e a culpa é minha.
Me engane duas vezes, o mérito é seu.
Tente me enganar a terceira, mas só tente.
Estarei preparado para você.

A esperança de meses se vai em um segundo
E a destruição me cerca.
O trabalho de Deus é tristeza inacabável,
Caos eterno, abismo sem fundo.

Lá atrás você me dizia que sua vida era um marasmo.
Está tudo frio? Deixe o fogo esquentar as coisas,
Levando o de você o que foi levado de mim.
Destruindo tudo que um dia achei que fosse bom.

O fantasma da felicidade uiva nos meus corredores escuros,
Ela se foi tão rápido quanto pude dizer “não vá...”
Ela se foi por vontade própria e voltou por maldade própria,
Agora canalizo meu ódio através de um voo gracioso.

A bondade e inocência foram recompensadas com injustiça cruel,
Agora canalizo meu ódio nas portas do céu!

Eu não estava derrotado, estava evoluindo.
Uma metamorfose dolorosa e necessária.
Quando o amor se torna ódio, sabemos que estamos mais fortes.
Quando estamos mais fortes, rompemos o casulo e justiça é feita.

Você tem forças para pisar na cabeça de quem ama?
Pois quem te ama tem força e vontade de pisar na sua.
Olhe-a pelos lados e verá a máscara,
Olhe através da máscara e verá o horror.

Se isolar não significa fraqueza,
Significa querer distância para a segurança dos outros.
O casulo se rompeu em lágrimas de puro magma
E o calor sufocante te cerca pela última vez.

Meu mundo está quebrado, queimado e sem curso,
Mas o fogo também é o elemento da vida.
Então se você me queimar pelo prazer em ouvir meus gritos,
Me erguerei das cinzas e a farei comê-las.

O amor e confiança sofrem metamorfoses dolorosas,
Conforme as pessoas agem, impulsivas, sem pensar nas consequências.
Não há amor nem compaixão verdadeiros nesse mundo,
Abrace o vazio, pois no fim ele é tudo que nos resta.

E tudo se vai em menos de um segundo, 
Deixando destruição suprema.
E chove o sangue de deuses, 
Trovões rugindo com seus gritos, suas dores.

Nos sentamos desesperados 
Esperando que um milagre venha
E limpe toda a nossa impureza
E refresque todas as nossas queimaduras.

Mas veja como Deus desconta sua ira
Nos que só querem fazer alguém feliz.
É assim que nascem os monstros.
Pessoas amadas criam os monstros.

O começo é como o fim,
Tudo em um segundo.
E a felicidade lhe é roubada
Com a facilidade do primeiro sorriso.

Mais forte, mais sábio caminharei
Ignorando o canto da sereia.
Sem olhar nos olhos da serpente,
Sem me afetar pelo veneno de suas futilidades.

Não olhe direto para a luz,
Pois a chuva de fogo está caindo.
Você verá o quanto me machucou
Quando eu abrir minhas asas.

Tudo se foi em um segundo.
E eu queria que durasse para sempre...
Mas amor deve se tornar ódio.
É uma metamorfose necessária.

sábado, 26 de novembro de 2011

Ingratidão

Ainda me lembro de quando tudo começou
E você se mostrava triste, pois jamais alguém a amou.
Tantas lágrimas escorreram, você tanto se queixou...
E quando veio a chance, você a abandonou.

Versos de amor não foram a saída.
Recusado, chutado, meu desejo homicida
De te ter ao meu lado se tornou uma ferida
Que não cicatrizará até o fim de minha vida.

Você não sabe o quão difícil é te suportar,
Não imagina o quão doloroso é te amar.
Mas como tudo na vida, isso vai acabar...
E quando se vir sozinha, você só poderá chorar.

A vida não é bela, a vida não dá chances,
Seu corpo envelhece, mas a mente é como antes.
Os verdadeiros amores você mantém distantes
O julgamento começou, desculpas não serão bastantes.

Seu coração está batendo forte? É o desespero que a toca.
Sua chance se foi, e só agora você nota.
Sabe que irá se arrepender, que jamais haverá volta...
Você nos destruiu e agora acabará morta.

 O que eu faria por ti, ninguém repetiria.
 Você sofrerá em par, morrerá com medo e sozinha.
 Jamais imaginou que a solidão te assediaria?
 Se acostume, é o começo. Você soube como acabaria.

 Tua miríade de erros não traz maturidade,
 E junto com a esperança se esgota minha bondade.
 Meus versos ecoarão em tua mente com morosidade
 Juntos à lembrança de sua última oportunidade.

 Mas o futuro não é o bastante, você não aprenderá a lição,
 Então enfrente agora a minha maldição.
 Do sofrimento iminente, apenas morrer é solução...
 Hora de ser punida por sua ingratidão.

Teus pulmões se contraem,
Teus olhos a distraem
Enquanto as esperanças caem
E teus amados te traem


Por ter-me feito amá-la, seus músculos doerão.
A cada passo, uma nova contração.
Seu coração pesará tanto ao cair no chão!
Pois saberá o motivo das desgraças que virão.

E quando lembrar-se de mim, verá que está descendo,
O segundo sintoma, seu nariz escorrendo.
Que tenha aproveitado enquanto ainda estava vivendo
Você me levará a sério quando estiver acontecendo.

Eu sei que teme minhas palavras flamejantes
Seus olhos estarão lacrimejantes.
Fugindo de gritos como trovões fulgurantes,
Sentirá cada chibatada de minhas palavras fustigantes.

E o frio incontrolável tomará conta de sua existência;
A febre intensa será o castigo por tua desistência.
Fui trocado por nada mesmo depois de minha insistência?
Meus sacrifícios foram em vão, e você terá sua consequência.

E suas tosses fortes farão seu peito doer,
Somente assim você vai crer
Que essa poesia diz a verdade, tudo vai acontecer!
Eis o preço de tanto me fazer sofrer...

Possuída por tremor incontrolável,
Seu sofrimento suprindo minha fome insaciável
De ver em você dano irreparável.
Sentir-te afundar em pranto infindável.

Quando chegar o sintoma dos lábios secos e cortados,
Entenderá que causo mal ainda que com punhos algemados.
Seus momentos de sorriso serão para sempre adiados,
Esconda-se com quem convir, a verdade estará em seus dias agoniados.

Estará pálida. Fraca e derrubada,
Vomitará diariamente e não poderá fazer nada.
Centenas de abismos não te deixam voltar na estrada
Pois agora te chutei para dentro e a porta está fechada.

A cada tentativa nova, um mundo de aflições.
Vivenciando febre tão forte que causa alucinações.
E quando acordares babada e fétida de tuas convulsões,
Verá o tempo todo tuas centenas de decepções.

E terá valido a pena as ferroadas que me deste?
Diarreia arderá as tuas entranhas, peste!
Quando se contorcer, por mais que me deteste,
Se arrependerá de verdade por falhar no teste.



E maldita, para que agrade meus fins,
Sentirá a pior das dores nos rins!
Dor pior que ser pisoteada em motins,
Terá seu corpo enterrado entre cupins!

No final, teu intestino se contorcerá.
Sem ar algum, você chorará,
Tentará gritar, mas nenhum som sairá
E nenhum remédio nesse mundo te curará.

Não me arrependo de nenhuma palavra dita
E estou ciente do medo que agora te habita.
Eu sou louco? Não, o escolhido para que se emita
Aquilo que merece por dor essa que me parasita!

E tua enxaqueca aumenta, e tua enxaqueca aumenta,
E tua enxaqueca aumenta, e tua enxaqueca aumenta.
Dor, choro, confusão, desespero!
Que podes fazer agora que a temperatura já esquenta?

O caldeirão do inferno te aguarda,
Entende que a culpa é sua mas permanece calada...
Então não tenho receio em desejar-te morte açoitada!
Quero te ver rastejar ardendo, esfolada!

Sangue ruim, tua existência me enoja!
Absorva bem cada palavra que em ti se aloja.
Sei que já sente que cada coisa boa em ti se despoja...
Não é crueldade minha. É consequência de tua arroja.

E como tudo que senti, acaba a maldição.
Apenas na morte teus choros terão conclusão
Tudo dito te desejo do fundo de meu coração...
Hora de ser punida por sua ingratidão.  

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Meu anjo

Quando eu era pequeno, me disseram que eu tinha um anjo da guarda.
Suas asas me protegeriam de qualquer machucado. Seu abraço, de qualquer dor.
Sua espada feriria meus inimigos, sua bravura guiaria minhas ações.
Seu olhar me instigaria sabedoria. Sua proteção, guiada por amor.

Mas nunca acordei sob penas brancas
E o conforto nunca me pareceu presente.
Um caos, um vórtex confuso e horrível.
Enganação, oh enganação...

Eu vejo a enganação vindo de longe.
Suas artimanhas estão ultrapassadas, previsíveis...
Mas eu quero ser enganado, meu amor...
Eu quero que você me engane.

Meu anjo está distante agora.
Você o afugentou. Vocês o afugentaram...
Todas iguais, sempre iguais.
Sempre diferentes em seus jeitos de serem iguais.

Seu papel é me destruir. Venha e me destrua.
Me destrua com sua proteção, me mate com seu “eu te amo”.
Me faça pular daqui com palavras de esperança, meu amor.
Me faça pular daqui. Me faça achar que sei voar.

Me engane, querida.
Me engane para que eu possa ser humano.
Me fira, me arranhe.
Me faça arder, amor. Me faça queimar.

E quando meu sangue irrigar o solo
E você estiver indo embora sem lembrança alguma...
Meu anjo voltará...
... e você já será apenas história.

Dizem que eu vivi com um rival.
Que competi a vida toda.
Doce engano, doce engano...
Tive a vida toda para competir.

Posso ter tido homens interessados no mesmo destino que eu
Posso não ter conseguido.
Mas elas...
Sempre tiveram um oponente imbatível.

Pois quando nasci, fui marcado por eles.
Quando nasci, esse anjo para mim foi prometido.
Cuja carícia necrosante me curaria de palavras ocas.
Aquelas que quiseram competir eram todas loucas.

Quando eu estiver em meus joelhos
E lágrimas escorrerem por causa de meus ferimentos.
Ele descerá...
Os céus acinzentarão.

Meu anjo, me disseram que estaria sempre comigo.
Então por que deixa que me enganem e que seus punhais provem meu sangue?
Isso te dá prazer, meu anjo.
Te dá prazer me curar. Você também me fere para me curar.

Você me deu a capacidade de ver quando vão me apunhalar.
Mas eu gosto, eu quero. Enganado, porém vivo
Enganado...
... achando estar vivo.

Durante minha infância
Acordei procurando penas brancas.
Reconforto, sol...
... proteção.

Mas não.

Sua chegada é o anúncio do fim dos tempos.
Sua luz é o eclipse.
Sua trilha deixa um rastro de penas pretas.
Me cubra com suas penas pretas.

Abrace-me agora, anjo da escuridão.
Abrace-me e se fira comigo.
Deixe que nosso sangue escorra mais uma vez junto.
Deixe que nos beijemos sob nosso sangue novamente.

Pois assim que tudo começou
E eu lutei com o filho da luz por ti.
E você me feriu para me curar.
Oh, como eu prefiro que você me fira.

Anjo, voe!

Meu amor, meu anjo está te olhando.
Está preparado para te fazer não ser nada.
O amor não é nada, o amor nos faz fracos.
Sente o frio? Sente o perigo?

Não sou eu quem vai viver o inferno.
Não sou eu quem está pulando...
...achando que sabe voar.
Você não sabe voar.

Amor, voe!

Meu anjo, acerte sem misericórdia caso eu falhe.
Estou trilhando esse caminho sozinho.
Não sei se consigo chegar do outro lado...
... pois o amor está me deixando enganado.

Avante anjo!

Meu amor.
Vá onde você for...
Não poderei fugir da dor.
Faça o que tiver que fazer, mas faça rápido... Judas.

Vamos nos enforcar juntos.
Nossos corpos, meros galhos nessa névoa.
Eles nunca nos acharão.
Ninguém mais olha para cima nessa vida.

Vidro choveu do céu naquela noite
E você não pode se esconder para salvar sua vida
E ficou estirada com ferimentos abertos
Mas te dei minha mão e te levantei.

E você me prometeu me dar tudo...
Me dar seu tudo
Porque te dei meus lábios, um beijo suave.
O remédio para curar sua dor.

Agora sua dor acabou!
Jogue o remédio fora.
Esqueça um dia ter estado doente.
Eu estou doente!

Amar é levar um tiro por alguém
Mas ser levado ao inferno por esse alguém é burrice.
Eu já nasci no inferno, amor.
Eu saí de lá carregado por um anjo.

Um anjo de asas negras
Cujo olhar profundo congela.
Meu anjo congelou o inferno para que eu não me queimasse.
Você esperou que eu me queimasse?

Eu te entreguei tudo de verdade.
Vamos, leve meu tudo!
Meu anjo está voltando.
Aproveite o sol, meu amor. Aproveite o céu.

Precisava aguentar mais poucas horas...
Mas fui enganado.
Eu sempre soube estar enganado.
Nós já nascemos mortos.

Só precisava aguentar mais um pouco pelas chamas.
Em dois meses meu anjo protegeria a nós dois.
Mas você me fez querer voar.
Agora ele voltará. Ele me segurará.

Meu anjo.

Não me deixe fraquejar na presença de meus inimigos.
Cura-me com a palavra divina.
E abra o portão das sete chaves supernas.
Castigue todo o amor da terra com a ira dos Céus!

O céu não é bondade.
É justiça.
Puna-me perante o mundo, meu anjo.
Puna o mundo perante mim!

Pandora,
Anjo da destruição, abrace-me suavemente.
Faça o que se recusam a fazer.
Minha droga. Está na hora da minha droga.

Me entorpeça, anjo!

Tudo está rodando. Me esfaqueie...
Meu amor, me esfaqueie.
Por misericórdia, me fira logo.
Deixe meu anjo retornar...

Pois eu andei descalço por areia ardente.
Subi sem apoio por pedras pontudas.
Meus pés estão cansados de andar. O caminho é difícil de seguir...
Mas se você tropeçar, eu também quero cair.

Se tiver que cair, nós caímos.
Nós caímos... nós caímos!
Nós caímos... nós caímos.
Droga, amor. Eu te prometi não chorar na sua frente.

Mas nós estamos caindo. Nós caímos
Tudo dói, não aguento mais olhar
Nós caindo... Mas nós caímos.
Tudo está caindo.

Com o tempo, o chão parece mais confortável que o amor.
Que nós caiamos... que nós caiamos... que nós caiamos!
Que o chão chegue logo!
Nós caímos... nós caímos, nós caímos!

Se tivermos que cair, cairemos.
Choraremos ...morreremos.
E nada faremos.
Caindo, caindo, caindo...

O infinito é nosso limite.
E eu choro,
eu choro.
Eu não queria mais estar sozinho.

Eu matei pessoas que me amavam.
Atire em mim também.
Assim tudo acabará...
... e meu anjo voltará.

Anjo, tua espada escarlate vai tirar o veneno
Implantado por palavras fúteis
Sem valor, sem sentido.
Dei valor à falta de sentido.

Se minha mão pecou, amputa-a de meu corpo.
Se pequei, amputa-me do mundo.
Cura minha alma no fogo.
Congela e restaura ela no inferno.

E eu voltarei com a fênix negra de tanto tempo atrás.
Lobotomizado, vazio.
Preparado para que me enganem novamente.
Até a guerreira já virou história.

Chega uma hora em que devemos ceifar nossos amores.
Mas eles crescem de novo.
Todo trigo é diferente mas cresce de novo.
Daquela maneira igual de ser diferente.

Nada é insubstituível.
Fora meu anjo!
Que estará comigo até minha morte.
Cravado em mim até o fim.

Meu anjo.
Teus lábios delineados me esperam
Para me drogar...

Meu anjo
Tua espada assassina me corta em dois
Para me salvar!

Meu anjo.
Imaginava teu toque gelado em minha pele, anjo.
Mas ele é quente
E humano.

Meu anjo.
Imaginava tua língua fria na minha, anjo.
Mas ela é fria
E humana.

Meu anjo.
Você quer que me firam para ter de quem me proteger.
Teu grito de guerra ecoa mundo afora.
Elas estão preparadas.

Você ceifou uma, sem medo do sangue morno.
A segunda, ainda sangue de seu sangue
A terceira, por mais que me significasse
E a quarta, a fez crescer para o lado errado!

A quinta, que morrerá esquecida
A sexta, até o fim renagada!
A sétima, presa à zoofilia
A oitava... sofrerá a morte enterrada.

A nona... será tomada pela doença
A décima... que nojo de tê-la tocada!
Décima primeira... deixada sozinha no deserto
E a próxima, estuprada e de lado deixada!

A décima terceira me amou mas sofreu por erro
A décima quarta... existe para ser usada.
A décima quinta escolheu deus e morreu sozinha
A décima sexta... a guerreira foi derrotada.

E a lista de mortos cresce, anjo.
E tua pele continua sempre tão alva...
E macia... descanso nela.
Ela é a única que me provém descanso?

Deitarei em teu seio.
Ficaremos sob o sol sem calor.
Sorrindo ao cinza.
Sozinhos no cinza.

Você me beijará.
Seu beijo doce e humano.
E me ferirá, e se ferirá...
E me curará.

Que é o amor senão tortura?
Tortura voluntária.
Mas as pessoas morrem ao sangrar.
Não têm um anjo que as faça... voar.

Eu as olho de cima porque te tenho
E você sempre me mostrou que estamos costurados.
E sua voz fina disse que estamos presos.
Então me amarre, então me prenda.

E me puna por ter me enganado.
Me puna por ter vivido.
Por ter me enganado achando que estava vivo.
Que estava vivo por...

Amor.

E eu sei, querida que você está preparada.
Pule daqui. Você sabe voar!
Eu sei da verdade desde antes dela existir.
Mas ainda assim se você tropeçar eu irei... cair.

E meu anjo me protegerá com penas negras.
E seremos ceifados em plena queda.
Choverá sangue.
Mais um pouco de sangue.

E acordarei inteiro.

As lembranças são páginas que devem permanecer ilegíveis.
Deixadas de lado com os cadáveres ceifados.
Se tentarmos reviver a vida, estamos condenados.
Morreremos sozinhos e calados...

Me faça arder, amor.
Introduza em mim as suas marcas.
Tatue em mim a sua presença.
Ainda que nunca leia minha carta de amor morta...

Seus olhos escuros são como de um utópico anjo.
Você quase me protege, você é quase um anjo...
Você é o mais perto que alguém chegou de ser meu anjo.
Você quase conseguiu tirar de mim o meu anjo.

Você é minha vida.
Mas minha vida está doente e acabando.
Você tentará me salvar ou acabará pulando?
Será diferente ou acabará me machucando?

Meu anjo
Você é a minha eternidade, e está preparado.
O eclipse solar está confirmado
E você desce voando...

Uma trilha de penas negras
É deixada em seu caminho.
Apressa-te meu anjo.
Estou envenenado e sozinho

Amputa-me meu anjo, mata-me meu amor.

Meu anjo.
Suas promessas para mim são eternas anjo.
Neva no inferno por nossa causa, anjo.
Vivamos no inferno, meu anjo... meu anjo.

Meu anjo.
Acaricia minhas cicatrizes, anjo.
Pois me mataram e estou contigo, anjo.
Se dou a mão à ti, sei voar, meu eterno anjo.

Em minha infância você disse que no caminho haveria espinhos
E que as nuvens se abririam. Era nosso sinal.
O sol me queima e você vem cobri-lo.
E estarei sob tuas asas até o final.

Você me disse que as pessoas que nos trazem felicidade
São as mesmas a nos fazer agonizar.
Você nunca erra, anjo.
Você sabia.

Você está aqui para me atormentar para sempre.
Me matar.
Não se meu amor me salvar.
Meu amor não pode me salvar. Ninguém pode.

Não tenho medo de morrer.
Nem mesmo a morte pode tirar de mim o que foi cravado por ela mesma.
E o céu está se fechando mais uma vez.
O mundo vai acabar... de novo.

E eu choro. Eu pulo daqui e caio.
Estamos caindo e eu desmaio.
Meu anjo está vindo, sou um lacaio...
Não queimarei no inferno, sofrer diário.

Me beije.
Remova esse veneno.
Sem métrica, em caos.
É tudo enorme nesse mundo pequeno.

Eu perdi amigos e vi pessoas ceifadas.
Matei amores, fui ferido no nada.
Se caio, rastejo pela estrada.
Seguido por um anjo. Me olhando calada.

Nada nessa vida é insubstituível.
Tudo nessa vida morre.
Mas nem o insubstituível e o morto
Te fizeram parar de me proteger, meu anjo...

sábado, 29 de outubro de 2011

Te esperando

Ah, a acústica sob esse holofote.
Ah, os ecos de sua voz..
Ah, as sombras nesse anfiteatro
Assistindo a mim, assistindo a nós.

Eu gostaria de rir também,
Mas é como se eu estivesse caindo.
E não há nada que eu possa fazer
Fora fechar os olhos e mergulhar além

Tentamos andar direto pelo caminho que começou no pecado.
Conseguimos agir certo, mesmo quando o mundo estava errado.
Um violão toca solitário no escuro atrás de nós; o que ele toca?
Me pergunto se você ouve meu chamado.

Por trás de meu sorriso, escondi tantas lágrimas.
Para ver tua felicidade, enfrentaria tantas lástimas.
Ouvi tantos adeus em vida. Não há nada que eu possa fazer
Fora fechar os olhos e mergulhar além?

Quando você esteve no escuro e sozinha
Era como se alguém estivesse sempre te olhando.
Essa presença, sempre se aproximando
Querendo desferir o golpe, mas sem poder tocar a bainha.

E agora que os papéis inverteram
Quem deve estar nos assistindo?
E depois que os erros aconteceram
Será que vou acabar a história sorrindo?

Eu estou aqui te esperando.
Mesmo que não te veja, não possa te encontrar.
Eu estarei aqui te esperando.
Eu estarei para sempre te esperando.

Não acredito que me veja como infortúnio
Pois vejo sinceridade até em suas omissões
Uma lâmina não pode cortar a essência
Nem o sentimento, nem a eternidade.

Mas eu gostaria de ver sentido no mundo.
É como se eu estivesse caindo!
Mas sei que se abrir os braços eu vôo
No horizonte o futuro vai surgindo.

Algumas coisas jamais deveriam ser ditas
E alguns pensamentos deveriam permanecer omissos.
O que aconteceu? Que são essas correntes partidas?
Um sorriso no rosto capaz de deixar os demais submissos.

Porquê quero estar aqui te esperando.
Mesmo que eu morra, não possa mais estar,
Eu estarei aqui te esperando.
Eu estarei para sempre te esperando.

Como se meu sangue dependesse de sua carne
E minha visão dependesse de seus olhos,
Só sua presença me faz ignorar o chão cadáver
Dentre todos os moribundos; bêbados sóbrios.

Mas eu estou aqui.
Onde você está? Eu quero te achar!
E esse violão tocando uma sonata solitária.
Aguardando sozinho o dia que não chegará

Duas metades óbvias
As quais no mundo não há demais par.
Acariciando o outro na dor, fazendo-o rir na desgraça.
Uma realidade tão boa que não se precisa mais sonhar.

Eu sinto mais do que o suficiente em meu coração
Seu chamado.
Não há mais nada dentro de mim, estou transbordando
É assim que deve ser.

Existe mesmo peça que se encaixe nesse espaço que tenho?
Se sim, ela esteve e está o tempo todo próxima de mim.
Tão inseparável, tão insubstituível
O maior pedaço de meu amor sem fim.

E eu estou aqui te esperando.
Sob castigos, doença, sofrimento e desesperança.
Eu estarei aqui te esperando.
Eu estarei para sempre te esperando.

Eu estou aqui te esperando.
Minha atenção será só sua caso se sinta sozinha.
Eu estarei aqui te esperando.
Eu estarei para sempre te esperando.

domingo, 16 de outubro de 2011

A Chuva

Gotas de pesar despencam do infinito,
O escuro chora sobre nós incessante.
É inescapável o sofrimento em mim inscrito.
O fim solitário de um caminho errante.

As árvores secas nessa noite de verdades,
Testemunhas mortas do julgamento injusto,
Retorcem-se em horror à nossas vaidades
E cedem de volta no ciclo augusto.

Cai a chuva nessa noite solitária
E nenhuma alma segurará minha mão.
Meu choro unir-se-á à chuva nessa ária
E o mundo ignorará essa canção.

Nos pântanos pútridos e mórbidos
Agonizam perenemente os anjos caídos.
Aprisionados ao deixar os caminhos acólitos
Choram, de suas asas destituídos.

A única luz hoje será a de raios raivosos
Que fustigam a terra com golpes inclementes
Inibindo-a com seus brados ruidosos
Me mantendo em castigos permanentes.

Pois o homem que desafia o próprio destino
E põe seus sentimentos acima do fadário
Seguirá eternamente a vida sob triste hino
Sem a chance de estar novamente sob rosário

Enterrado entre mortos sem nome
Nesse baile faço par com anjos caídos
Que por acreditar, morrem de fome
Agonizantes, assustados e esquecidos.

A rosa negra desamparada,
Sozinha sob a chuva assoladora,
Vivendo seu último momento calada,
Punida nessa noite assustadora.

Rastejando humilhado para o fim,
Esforço-me para respirar e seguir o caminho.
Tentando me ocultar do motim
Me encontro derrubado, vazio e sozinho.

Oh, e a chuva não leva de mim a tristeza!
A solidão e o pesar encravados fundo em meu peito!
Chuva! Choro por tua gentileza!
Ouça-me, pois por redenção e paz tudo aceito!

A terra é purificada pelas lagrimas tuas
Então lava-me em meu desespero!
Preencha meu vazio com tuas gotas nuas
Que me atingem desse modo austero!

Na terra encharcada ajoelhado
Sem redenção por tentar ser amado
Sob as próprias lágrimas afogado
Caído num infinito negro. Derrotado.

Cai a chuva nessa noite solitária
E nenhuma alma segurará minha mão.
Meu choro unir-se-á à chuva nessa ária
E o mundo ignorará essa canção.

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